UM DIA NO PARQUE
O dia estava propício para um passeio no parque de diversões. Temperatura amena, sol de verão… E feriado! E o que se fazer num feriado com esse tempo tão bonito?… Levantaram cedo, ligaram para alguns casais de amigos e combinaram a ida ao parque de diversões, localizado próximo à saída da cidade em que moravam…
Adriano e Cláudia, casados recentemente e ainda sem filhos, tinham toda energia necessária para qualquer eventualidade, principalmente se essa tal eventualidade se resumisse em apenas passear, desfrutar e receber tudo de bom que a vida pudesse oferecer, e assim, naquela bela manhã de feriado, Cláudia não teve dúvidas, passou a mão em seu insubstituível parceiro (o telefone – não o Adriano), e exercitou aquilo que mais sabe fazer: telefonar!… Num gesto de tamanha intimidade e prática com aquele aparelho, mais uma vez exercitou os seus dedos na digitação dos números no convite aos seus amigos para aquele passeio no parque.
Resolveram que iriam passar o dia todo por lá, e até levaram suas provisões: sanduíches, sucos e refrigerantes (e umas cervejinhas), para um gostoso piquenique à sombra das árvores e dos quiosques espalhados pelos gramados do interior do parque.
Lá por volta das dez da manhã, já estavam na fila da bilheteria a comprar os passaportes para que logo pudessem entrar e usufruir de todos os brinquedos oferecidos naquela tradicional área de lazer da cidade, porém não sem antes se atrasarem um pouco na compra dos tais passaportes, pois no momento em que Adriano e Cláudia “negociavam” o preço daqueles passaportes, Cláudia discutiu com o funcionário que os atendia na bilheteria, pelo fato de que, bem naquela hora, os passaportes para o ingresso no parque terem se acabado no caixa, e aquele funcionário necessitou deixar seu lugar, apenas por um minuto, para apanhar mais passaportes num cofre do lado interno daquela bilheteria.
Esse fato irritou sobremaneira Cláudia que não se conformou que justo na vez dela, os passaportes haviam se acabado, e por isso, passou a ofender de incompetente aquele pobre funcionário e a culpá-lo sem motivo algum, exigindo inclusive a presença do gerente daquele parque. Após algumas explicações do “paciente” gerente à Cláudia, e vendo que a fila para a compra de passaportes aumentava em virtude daquela confusão, e que ainda as pessoas na fila já estavam bastante agitadas, tratou logo de contornar a situação e Cláudia tomou posse de seus passaportes.
Não é preciso nem falar que aquele tempo de um minuto que o funcionário da bilheteria iria demorar em apanhar mais passaportes dentro do cofre, rendeu pelo menos quinze minutos de atraso, com Cláudia reclamando “seus direitos”.
Enfim, entraram no parque e divertiram-se muito em todos os brinquedos. Os casais de amigos aproveitaram bastante o direito de uso de seus passaportes e não deixaram de usufruir de quaisquer brinquedos disponíveis naquele centro de lazer. Gritaram aos sustos e arrepios na Casa dos Monstros e no Trem Fantasma. Foram “às nuvens” nos discretos beijos em meio à brisa e os apertos de mãos na romântica Roda Gigante. Colocaram para aflorar as adrenalinas dentro dos carrinhos, em meio aos gritos tensos nos trilhos da Montanha Russa e depois no subir vagaroso e no descer a jato do Elevador Arranha-Céu…
Voltaram “à calma” no nostálgico pedalar no lago azul, dentro dos Pedalinhos, ao lado do flutuar suave de seus belos cisnes a nadarem alheios às diversões dos turistas.
E desse jeito, o dia foi se passando na vida daqueles jovens casais, num proveitoso e maravilhoso passeio de diversão no parque da cidade.
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Quase no final da tarde, quando já haviam feito o piquenique sob as sombras das árvores e dos quiosques, e andado praticamente em todos os brinquedos, ainda faltava o passeio pelo Teleférico, o qual de cima dele, podia-se ter uma visão completa da área do parque, pois o seu percurso iniciava-se próximo ao lago e cruzava grande parte de sua extensão até chegar ao alto do morro. Pensando nisso, resolveram ainda usufruir desse outro brinquedo para depois irem embora.
Rumaram até a plataforma de embarque e, após enfrentarem uma fila de pessoas que lá também estavam para ocuparem-se vez numa das cadeirinhas daquele brinquedo, um a um dos casais, conforme as cadeirinhas do teleférico iam passando, foram tomando posição em seus assentos. Primeiro a mulher e logo em seguida o marido e assim por diante. E o espaço de intervalo da passagem de cada cadeirinha era o de aproximadamente uns dez metros entre elas.
A subida até o topo do morro onde ficava a plataforma de retorno foi tranquila. Somente Adriano que estava um pouco receoso em subir até o morro, mas também embarcou. Após alguns minutos apreciando a paisagem lá do alto, começaram a retornar para a plataforma inicial.
Na volta, o casal Adriano e Cláudia foram os últimos a tomarem posição nos assentos das cadeirinhas do Teleférico. E seguindo aquela mesma sequência, primeiramente foi Cláudia e logo atrás foi o seu marido Adriano, porém este por ainda estar um pouco receoso de andar no Teleférico, talvez até pelos seus “quilinhos a mais”, acabou por deixar de sentar na cadeirinha que veio logo em seguida da que estava sentada Cláudia, entretanto vendo que os seus amigos, com suas respectivas esposas já haviam “embarcado” naquele meio de transporte e estavam chegando ao destino final, buscou coragem e, num respirar profundo e num breve fechar de olhos, saltou de costas e sentou sobre a próxima cadeirinha e lá se foi…
E o Teleférico foi seguindo seu percurso normalmente. Quando Adriano atingiu a metade do trajeto, já podia ver seus amigos chegando ao final da linha e saltando para a plataforma a lhes esperar, acenando com as máquinas fotográficas e as câmeras filmadoras apontadas em sua direção.
Tanto o percurso de ida quanto o de retorno das cadeirinhas do Teleférico, passavam por cima daquele lago dos Pedalinhos e de seus belos cisnes, transcorrendo sempre sem problemas.
Só que naquele dia, algo insólito viria sobrevir…
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Assim que Cláudia desceu na plataforma de desembarque final do Teleférico, e faltando poucos metros para Adriano, que vinha logo atrás, atingir o seu final, um barulho estranho ouviu-se próximo ao carretel que prende o cabo de aço à guia de sustentação da cadeirinha em que estava sentado, e logo em seguida ao barulho, aquele cabo de aço, sem explicação, afrouxou-se repentinamente, fazendo com que a cadeirinha da qual estava Adriano sentado, juntamente com ele, é claro, mergulhasse nas águas do lago, afundando até pouco acima de sua cintura.
No momento em que “ambos mergulharam”, um pequeno tsunami formou-se nas águas, fazendo até com que os cisnes que nadavam ao lado dos Pedalinhos, aportassem subitamente pelas margens do lago.
E Adriano, tendo ficado somente com o tórax para fora da água, com os olhos bastante arregalados, branco pelo pavor daquela crise, e agarrado na guia de sustentação da cadeirinha, desesperado passou a gritar:
— Cláááááudiaaa!… Cláááááudiaaa!… Eu tô afundaaaaando!… Chame alguém pra me tirar daqui! Rááááápido!!!…
E vendo aquela cena, os amigos de Adriano, bem como todas as demais pessoas que estavam próximas àquela plataforma, passaram a gritar por socorro a fim de que algum funcionário do parque ouvisse e viesse até o local.
Cláudia angustiada e muito nervosa por ver seu marido prestes a afogar-se, pois aos poucos ele afundava nas águas do lago, em meios aos gritos de socorro, tentava acalmar Adriano:
— Calma Adriano! Não se mexa senão você afunda mais! – e continuava em seu martírio:
— Ô meu Deus…! Me ajuuuudem! Socooooorro!!! Alguém tira o meu marido dali! Ele não sabe nadar!
Aí, um dos amigos que estava junto com eles, o Alexandre, tentou também acalmar Cláudia e disse-lhe:
— Calma Cláudia! Eu já chamei o resgate. Eles estão vindos pra salvar o Adriano.
E próximas a eles, as pessoas que também acompanhavam todo o drama de Cláudia e principalmente o iminente afogamento de seu marido Adriano, e é claro, já se sabendo o nome da “vítima” pelas circunstâncias dos acontecimentos, tentaram também com os seus gritos, acalmá-lo:
“— Calma Seu Adriano! Calma! O resgate já vem vindo! Aguenta só um pouco mais que eles já estão chegando!”
E entre as pessoas que presenciavam aquele “sinistro”, havia algumas que insensíveis aos lamentos e desesperos de outras, tiravam fotos e filmavam com satisfação o grande “caos” em que Adriano tinha se metido.
Ouviam-se inclusive entre elas, os seguintes comentários:
“— Nossa! Acho que o cabo de aço não aguentou o peso do Seu Adriano.”
“— É verdade!” – comentava outra pessoa e continuava:
“— Daqui dá pra ver que ele está um pouquinho além do peso.”
Já outra voz entre os presentes, analisava:
“— Não tem nada a ver! Aquele cabo de aço é forte o suficiente para aguentar até um elefante. Vai ver que hoje não é o dia dele mesmo.”
E outra mais dramática, falava alto:
“— Isso é falta de manutenção! O parque tem que ser responsabilizado, principalmente se ele morrer…!”
E entre uns e outros comentários, e em meio ao som da sirene da viatura do resgate que se aproximava do parque, Adriano não se contendo mais, pois estava afundando em virtude que o cabo de aço aos poucos ia cedendo e a água estava quase que lhe cobrindo os ombros, e ele, grudado tal qual carrapato em couro de cachorro, ia segurando firmemente com as mãos no cabo de aço de sustentação da cadeirinha, e ainda sentado sobre ela, desesperado continuou com o seu suplício:
— Tá afundaaaaando!!! Eu tô afundaaaaando!!!! Cláááááudiaaa!!!!… Alexaaaaandre!!!!… Façam alguma coisa!!! Pelo amor de Deus!!!…
Nisso, um garoto aparentando uns catorze ou quinze anos de idade, que acabara de aproximar-se da turba que se formara em cima da plataforma, e vendo toda a aflição de Adriano, incontinenti, tirou a camiseta e os tênis que usava no momento, tirou também os óculos escuros, colocando-os todos ajeitados num cantinho da plataforma, ficando só de bermuda, e então, pulou de pé sobre as águas do lago, bem próximo à sua margem, e foi caminhando em direção a Adriano até alcançá-lo. E chegando próximo à “vítima”, ante as perplexidades de todos que acompanhavam aquele seu “naufrágio”, e entre os flashes das máquinas fotográficas, falou-lhe:
— Senhor! Não precisa ficar com medo. Pode soltar do cabo de aço, esticar as pernas e saltar sem problema da cadeira. Aqui é tudo raso, pode segurar no meu ombro e vir comigo que dá pé.
Ouvindo os “conselhos” do garoto, Adriano extremamente suado e sem graça, quase voltando ao seu tom normal de pele, tentou justificar aquele seu desespero:
— Pode deixar!… Obrigado! É… é… é que é a primeira vez que venho aqui, e… e… não conhecia muito bem este lago… sabe né…?!…
Dito isso, saíram os dois caminhando normalmente dentro daquele lago, um ao lado do outro, até à sua margem, alcançando em seguida à plataforma, onde Adriano “afogou-se” calmamente nas lágrimas emocionadas de Cláudia, em meio aos aplausos, gargalhadas e flashes vindos da grande plateia que ali havia se formado. Ah, inclusive foram aplaudidos até pelos homens do resgate, que aliviados pelo final feliz daquela ocorrência, sorridentes subiram na viatura e deixaram o parque.