Trem noturno
Alta madrugada, o silêncio do
quarto, e o sono que oscila mas
não vem.
Então me vejo em uma malha
ferroviária e imagino a acompanhar
o percurso de um trem.
As cidades e os campos dormem,
mas na ferrovia, a máquina
com seus inúmeros carros em
minha mente,
soam o estrilar de aços e ferros
sobre trilhos e dormentes.
E o trem, trilhando mansamente
madrugada adentro,
vai fechando sinais, cancelas
e cruzamentos,
a conduzir sua carga, entre ramais,
desvios e entroncamentos.
Até posso ouvir seu longo apito
a ecoar na imensidão de um túnel,
e o seu farol a brilhar na linha,
vai deslizando e quebrando a
escuridão, indo findar numa pequena
e deserta estação.
Agora ouço a fricção de seus freios
e o estampido do ar comprimido.
Uma breve parada naquela
estação, e outro longo apito,
sinaliza na plataforma, a lenta partida
daquela composição.
E a locomotiva, pelo peso de seus
contêiners, tanques, box e gôndolas,
lentamente vai deixando as
ermas estações,
a carregar por diversas localidades,
a carga de seus vários vagões.
É o trem noturno, forte cargueiro,
que corta as cidades e os mistérios
da noite e vai em frente,
ajudando a transportar para bem longe,
entre corações e mentes, a insônia e
a solidão de muita gente.
PRÊMIOS:
– Menção Honrosa (12º lugar) no IV Prêmio Artez de Literatura, da Antologia Literária e Artística – São Paulo/SP – 2.006