Mauro Martiniano
Amor e poesia!
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O PAR DE SAPATOS

Carlinhos nunca teve a vida fácil.  De família humilde e de poucos recursos financeiros, sentiu logo cedo a necessidade de ter que trabalhar para pelo menos ganhar seu dinheirinho e de vez em quando, poder passear com os amigos, frequentar discotecas, e até mesmo comprar algumas roupas novas, e, se possível, as que a moda estivesse exigindo naquela época.

Afinal, Carlinhos com seus quinze anos de idade, há pouco tinha deixado aquela fase da infância e agora, adolescente, se preocupava em sair com os amigos nas noites de sábado, cultivar novas amizades, conhecer as meninas, paquerar, namorar… Coisas normais na vida de qualquer jovem.

E é lógico que essa nova fase da vida tem o seu preço. E o seu preço é e era estar na moda. E também, sair para lanchar, ir ao cinema, frequentar barzinhos, acompanhar e ter novos amigos…

Pensando nisso, Carlinhos passou a estudar no período noturno e começou a trabalhar durante o dia. Arrumou um serviço de entregador de jornais na cidade interiorana em que morava. Serviço humilde, mas de muito bom préstimo para toda a comunidade. Humilde também era o salário que recebia mensalmente: Um salário mínimo!…

Mas tudo bem, embora tendo que madrugar, trabalhava só na parte da manhã, aproveitando à tarde para estudar e fazer suas lições e trabalhos do colégio onde estudava, e o que ganhava, ajudava um pouco em casa e, com o que sobrava se esforçava na sua administração para que rendesse pelos trinta dias do mês, até que viesse a receber o próximo pagamento.

Apesar de tudo, estava muito feliz com o emprego.  Agora pelo menos dispunha de algum dinheiro para o seu divertimento e até mesmo para se vestir um pouco melhor de acordo com a moda, sem sentir vergonha de sair à noite com os seus amigos.

Numa tarde de sábado, após ter recebido seu primeiro salário e já ter separado a cota para ajuda em casa, saiu a andar pelas ruas comerciais no centro da cidade, a admirar as lojas e seus belos artigos expostos nas vitrines, com a intenção de comprar qualquer coisa que se encaixasse num de seus interesses, e de preferência algum vestuário para que pudesse estar renovando sua aparência.

E na linha do vestuário, o que mais precisava de imediato, era de um par de sapatos novos, pois os que possuía, face ao longo e “necessário” período de uso, estavam bastante ralados em seus bicos e laterais, ao ponto de nem mais conseguir lustrá-los ou disfarçar seus esfolamentos com graxa. Isso sem contar suas solas desgastadas de um lado de cada pé, pelo fato de pisar um pouco torto quando caminhava.

Depois de andar alguns quarteirões daquele centro comercial, tinha se decidido!… Compraria um par de sapatos naquele mês, e nos próximos meses usaria seus pagamentos para a compra de outros vestuários, tais como: calças jeans, camisas, cintos, etc…

E então passou a correr os olhos pelas vitrines, voltados somente na busca de um par de sapatos de seu gosto. Já havia andado por quase todas as calçadas centrais daquela cidade paulista onde se localizava o comércio local. Viu vários pares de sapatos que atendiam ao seu desejo, sapatos bonitos e da moda, porém sequer chegou a entrar em qualquer loja para olhá-los de perto, devido ao seu alto custo que o desanimava logo quando verificava o seu preço aposto junto à vitrine.

Até que, próximo ao final da tarde, depois de muito andar pesquisando preços, entrou em uma galeria de lojas e numa de suas vitrines, viu aquele mesmo modelo de sapatos que já tinha observado em outras lojas com alto custo, com o seu preço muito abaixo dos já vistos.

“Só pode ser promoção! Que sorte a minha! Ainda bem que não desisti de procurar por esses sapatos que tanto desejei e agora vou poder comprá-los!” – pensou Carlinhos, sem tirar os olhos brilhantes e ambiciosos daquele par de sapatos na vitrine.

Carlinhos estava até se vendo usando aquele par de sapatos novos a passear com os amigos pela cidade…

Mas não ficou ali parado pensando muito, pois tamanha era a vontade de olhar de perto aqueles sapatos. Poder senti-los em suas mãos, apalpá-los, calçá-los enfim… Entrou na loja e, de imediato, uma de suas vendedoras, uma moça bonita e meiga, simpaticamente veio em sua direção e sorrindo lhe dirigiu a voz:

– Olá! Boa Tarde! Tudo bem?! No que posso lhe atender?…

Carlinhos retribuiu aquele delicado cumprimento e foi logo falando para aquela vendedora:

– Gostaria de ver de perto aquele par de sapatos marrons claros lá da vitrine!  Você pode pegá-los para mim?

– Lógico que sim!  Qual o número que você calça?  – perguntou a vendedora, ainda com um leve sorriso no rosto.

– 39! – respondeu prontamente Carlinhos. Você tem este número?

– Não sei!…  Acredito que tenha sim.  Aguarde só um instante que vou verificar no estoque – disse a vendedora saindo em direção aos fundos da loja.

E Carlinhos ficou na ânsia da espera pelo retorno daquela vendedora… “Só faltava não ter justo o meu número, logo agora que encontrei um preço bom e posso pagar!” – pensava mais uma vez Carlinhos.

Aguardou por alguns minutos não tirando os olhos da direção para onde a vendedora havia seguido. E quando começava a perder a esperança, pois pela demora, aquela moça provavelmente não teria encontrado o par de sapatos com o tamanho de seu número…, num súbito, escancarou um largo sorriso ao vê-la se aproximar com uma caixa de sapatos nas mãos.

– Puxa!!! Que sorte a sua! Era o último par de números 39! Ainda bem que eu vasculhei bem o estoque e o encontrei. – falou com alegria a vendedora, e continuou:

– Senta aí no banco e experimenta! Vê se você vai gostar deles nos pés.

Carlinhos não hesitou.  Sentou no banco de estofados pretos próximo de onde estava sendo atendido, disposto ali justamente para aquela finalidade, tirou o par de tênis que usava e finalmente calçou o par de sapatos tão desejados.

Após tê-lo calçado, levantou-se, foi à frente de um espelho fixado na parede ao lado daquele banco, arregaçou um pouco as barras de sua calça para melhor visualizá-los em seus pés, e percebeu que os sapatos ficaram bem melhor do que ele já tinha imaginado quando os admirou pelas vitrines da cidade.

– Gostei! – falou ele com grande euforia. Vou levá-los!

– Ficaram bonitos mesmo!  – disse a simpática vendedora.  E como que você pretende pagá-los?

– Vou pagá-los à vista! – respondeu convicto Carlinhos.

– São 380, 00 cruzeiros! – enunciou a vendedora.

– 380,00 cruzeiros?!!!…  – espantou-se Carlinhos desviando rapidamente os olhos dos sapatos calçados em seus pés e, olhando assustado para a vendedora, retrucou:

– Mas como 380,00 cruzeiros, se na vitrine está por apenas 76,00 cruzeiros?!… Vai lá e dê uma olhada você mesma para ver como estou certo…

– Acho que você se enganou no preço.  – falou carinhosamente a moça vendedora. Mas claro, vou lá apanhar a etiqueta para te confirmar o valor.

A moça foi até a vitrine e voltou com a etiqueta contendo o preço daquele par de sapatos e, meio que sem graça e com um discreto ar de pena, explicou a Carlinhos:

– 76,00 cruzeiros são a entrada e mais quatro cheques mensais de 76,00 cruzeiros cada…

Carlinhos não acreditando no que estava acontecendo e meio que fora de si, apanhou a etiqueta das mãos da vendedora e com os seus próprios olhos pode observar que o valor de 76,00 cruzeiros estava escrito com letras grandes bem ao centro daquela etiqueta, e num cantinho logo abaixo, em letras minúsculas, expresso o seguinte anunciado: “Entrada + 4 x 76,00 cruzeiros mensais”.

Naquele instante, o chão “saiu” repentinamente dos pés de Carlinhos, e sem mais o seu entusiasmo, num susto retirou aqueles sapatos novos que ainda “orgulhosamente” calçava, colocou-os sobre o tapete ao lado de sua caixa, na lateral do banco em que sentara para experimentá-los, calçou o velho par de tênis, e, constrangido, sem olhar para o rosto da vendedora que lhe atendera, abaixou a cabeça e falou:

– Desculpe-me fazer você perder o seu tempo e buscar estes sapatos lá no estoque. Mas infelizmente não vou poder levá-los hoje, pois só tenho 90,00 cruzeiros e não trabalho com cheques.

A moça vendo a decepção de Carlinhos, comovida falou a ele:

– Não tem problema!  Estou sempre aqui à sua disposição quando quiser voltar…

E Carlinhos saiu daquela loja e foi direto para sua casa se aprontar para sair com os amigos naquele belo sábado que prometia uma linda noite estrelada, ainda com suas roupas velhas, mas pensando em poupar aquele seu suado dinheirinho e também, quando deixou a loja, uma grande alegria rondou o seu coração ao sentir que aquela tarde de sábado lhe presenteara com uma grande motivação para estudar muito para o futuro…

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