Mauro Martiniano
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O CABO DA ENXADA

Como de costume, naquele sábado à tarde, reuniram-se na casa do Vô Eurico para acertar os detalhes de mais uma pescaria domingueira. Todo sábado era assim, o Tio Milton organizava a pescaria para o domingo, passava no sábado à tarde na casa do Vô Eurico, onde combinavam para o dia seguinte os pormenores da pescaria, enquanto as crianças: Carlos – doze anos, e Maurinho – dez anos, que não desgrudavam um só minuto da conversa, ansiosas, aguardavam pelo convite dos homens (Vô Eurico e Tio Milton) para também poderem ir à pescaria. Os primos Carlos e Maurinho eram sempre convidados, e mesmo sabendo disso, a cada convite comemoravam muito entre eles. A ânsia de pescar entre os meninos era tanta, que quase não dormiam a noite. Arrumar as tralhas transformava-se num grande prazer para ambos.

Às cinco e meia das manhãs de domingo, Tio Milton passava com o carro e apanhava o Vô Eurico e Maurinho na casa deles. Não precisa nem dizer que meia hora antes do combinado, Maurinho já estava de pé e “a caráter”, pronto para a sempre esperada pescaria no rio Jacaré-Guaçu, nas proximidades de Araraquara, no interior do Estado de São Paulo.

No caminho, próximos à saída da cidade, no bairro do Carmo, paravam em uma das poucas padarias abertas àquelas horas da manhã naquela cidade do interior, a fim de comprarem o lanche da pescaria (pão, mortadela e tubaína). Isso também era um grande motivo de alegria e satisfação para os garotos. Para completar a “ração” necessária ao evento, Tio Milton trazia um galão com água e o Vô Eurico incumbia-se de trazer uma garrafa com café. Mas não pensem que se tratava de uma garrafa térmica, o café era mesmo acondicionado em uma garrafa de cerveja tampada com rolha, sendo que no transcorrer do dia, na beira do rio, tomava-se café frio mesmo.

E após sair da padaria, partiam em direção à estrada rumo ao rio.

No entanto, naquele dia, mal sabiam os pescadores que toda aquela rotina de anos de pescaria seria diferente. E tudo já havia começado a mudar no dia anterior, quando dos preparativos, resolveu-se pescar num lugar diferente e mais distante do que eles sempre pescavam, muito embora sendo nas mesmas águas do Jacaré-Guaçu.

Chegando à beira do rio, como sempre, deixavam o carro sobre a ponte e caminhavam entre trilhas na mata até chegar à margem do rio. Quando ainda estavam nesse percurso, pouco antes do local aonde iriam “aportar”, o Vô Eurico avistou uma pequena árvore, cujo tronco tinha a forma perfeita para ser utilizado como um cabo de enxada (Vô Eurico cultivava uma pequena horta no quintal de sua casa). Não teve dúvidas, tirou o facão de uma das bolsas que carregava e tratou logo de cortar aquela pequena árvore, cujo tronco, segundo ele, caberia certinho em uma de suas enxadas. Esse cabo tinha aproximadamente uns dois metros e meio de comprimento por uns seis centímetros de diâmetro.

Vendo isso, Tio Milton ainda tentou fazer com que ele desistisse da ideia, pois sabia que as enxadas que Vô Eurico possuía todas elas já estavam providas de cabos, e no mais, se evitaria cortar aquela pequena árvore. Mas Vô Eurico sempre com a resposta na ponta da língua, disse ao Tio Milton para que ele não se incomodasse com aquilo, pois aquele cabo ficaria guardado, de reserva em sua casa, pois em algum dia ele poderia ser útil.

Já no local da pesca, próximo à beira do rio, como de hábito, achou-se lugar para colocarem as tralhas (bolsas, varas de pescar, iscas, etc.), para assim, iniciarem logo mais uma prazerosa pescaria.

Vô Eurico então, com o “futuro” cabo de enxada em uma das mãos, encostou-o a uma árvore próxima à beira do rio, perto de onde estavam assentadas as tralhas, procurando deixá-lo em local de fácil visão, para que não se esquecesse dele quando fossem embora e preparou­-se para pescar.

Passou-se a manhã toda, mas infelizmente “o mar não estava para peixes”, ou melhor, o rio não estava para peixes, pois já era por volta do meio dia e meia, e só tinham pescados alguns lambarizinhos, e isso, apenas o Tio Milton e o Vô Eurico, porque eram bons pescadores (os mais pacientes), inclusive, eles já haviam até se dispersados pela margem do rio à procura de melhor local para pescar, ou seja, como eles mesmos diziam: “ir atrás dos peixes”. Enquanto isso, Carlos e Maurinho pareciam estar lá, só para “dar banho nas minhocas”… E é claro!… Comer os “lanchinhos”.

Acontece que em toda boa pescaria a sorte sempre muda, e já na parte da tarde, lá por volta das quatro horas (Nossa!!! Que paciência hein?!…), as coisas pareciam que iam melhorar. Maurinho consegue fisgar seu primeiro peixe do dia. Milagre?… Sorte?… Não importava! O importante é que os peixes pareciam estar chegando naquele pedaço do rio. Maurinho, feliz com o lambari nas mãos, após livrá-lo da fisga que o prendia, corre em direção de onde estava amarrado o “viveiro” (recipiente no qual se colocava os peixes que eram pescados, e que ficava parcialmente dentro da água, amarrado com uma cordinha em um tronco ou um pedaço de pau na beira do rio), com o propósito de colocar o pequeno peixe naquele recipiente e voltar rapidamente à pescaria.

Todavia, naquela noite havia chovido muito e, o barranco próximo ao local em que estava o viveiro encontrava-se escorregadio, e na volúpia incontrolável pelo peixinho fisgado, Maurinho nem se apercebeu disso, e ao chegar próximo ao barranco no intuito de guardar o lambari naquele viveiro, de pronto escorregou para dentro do rio com roupa e tudo e… não sabendo nadar… afundou…

Quando retornou à superfície, após braçadas de desespero, já estava distante uns dois metros da margem, e aos gritos de socorro, começou a afundar pela segunda vez em meio às braçadas que não surtiam efeito de tirá-lo a salvo dali.

Vô Eurico e o primo Carlos estavam mais acima das margens do rio e não perceberam aquela situação. Tio Milton é quem estava mais próximo, e ao ouvir o barulho que as braçadas desesperadas de Maurinho faziam nas águas, correu para o local e quase sem saber o que fazer, esticou a vara de pescar que estava em suas mãos em direção a Maurinho, na intenção de que este a agarrasse, porém não conseguiu êxito, pois a vara era pequena e não chegava até as mãos do menino.

Então, sem que Tio Milton conseguisse sucesso em sua tentativa, Maurinho que havia retornado à superfície pelo agito das braçadas, começava a afundar pela terceira vez. Nesse momento suas braçadas já não eram mais tão fortes e nem mais tão desesperadas, apenas os braços ainda estavam acima da superfície das águas… O afogamento era inevitável!

De repente, em sua atribulação, Tio Milton olha para o lado e vê encostado na árvore da qual cujo tronco estava amarrado o viveiro, o “cabo da enxada”… Isso mesmo!… Aquele pedaço de pau que havia sido cortado por Vô Eurico, logo pela manhã, assim que chegaram para pescar, quando ainda estavam pelo caminho no meio da mata antes da chegada à beira do rio. Então, Tio Milton, sem titubear, apanhou rapidamente aquele pedaço de pau e, como uma última esperança, esticou-o em direção aos braços de Maurinho que se afogava, e que naquelas alturas, já estava novamente imerso, apenas seus braços estavam acima da superfície das águas e, como que por um milagre, Maurinho, ao sentir tocar aquele objeto em suas mãos, agarrou-o fortemente, tendo Tio Milton o puxado para fora das águas, salvando-o do iminente afogamento.

Minutos após, alarmados pelo barulho, chegam correndo Vô Eurico e Carlos, indagando-os sobre o que havia acontecido e Tio Milton em meio a um ar de susto e alívio, desabafa:

— Seu Eurico, o senhor acaba de salvar a vida do Maurinho de um afogamento!

Daí pra frente, após Tio Milton explicar o ocorrido ao Vô Eurico e ao primo Carlos, sem dúvida nenhuma, a pescaria não teve mais clima para continuar. Recolheram todas as tralhas e voltaram para casa.

O “cabo da enxada” voltou com eles, porém jamais serviu em qualquer ferramenta do Vô Eurico, pois como já dito, todas as suas ferramentas já eram providas de cabos, e aquele cabo de enxada, salvador, por muitos anos ainda ficou guardado, esquecido num quartinho de tralhas no quintal da casa do Vô Eurico sem nunca ter sido utilizado, só tendo sido útil em apenas um dia… Naquele dia da pescaria.

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