Mauro Martiniano
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NO VELÓRIO

As duas comadres vestiram-se com os trajes tradicionais de dias de lutos, a fim de irem ao funeral do compadre Dito que estava sendo velado no velório municipal. Colocaram aquelas roupas pretas típicas desses dias; maquiaram-se; apossaram-se de suas inseparáveis bolsas contendo em seus interiores aqueles kits diversos; deram risadas de algumas passagens na vida do falecido compadre…, mas quando se lembravam do “evento” para o qual se preparavam para ir, ensaiavam um ar de tristeza e até mesmo disfarçavam um pequeno chorinho.

Pelo caminho as comadres iam tecendo alguns comentários sobre o finado compadre:

— Éééé… comadre Rosinha,… compadre Dito foi-se. Homem bom toda vida, não é mesmo?… – dizia Luzia.

— É verdade. Homem igual não se vê mais por aí não! – respondeu Rosinha. Tantos anos casados com a comadre Lázara. Sabe Luzia, não sou de fazer fofoca, e você sabe muito bem disso, mas acho que o compadre agora vai poder descansar. Coitado, deve ter sofrido muito com o gênio da Lázara.

— É mesmo né…?! – concordou Luzia. Apesar de que não via o compadre há vários meses. Ultimamente estava procurando evitar ir até lá. Parece que a comadre Lázara não fazia muita questão de receber visitas em sua casa. Cada vez que ia visitá-los… hum!…  Ela fazia uma cara…

— Eu também! – falou Rosinha. Você acredita que um dia desses fui fazer uma visitinha pra eles, e a comadre Lázara sequer saiu do quarto pra me cumprimentar…?

— Não acredito! Mas que falta de consideração!!!… – disse Luzia numa expressão de grande surpresa.

— Pois pode acreditar! Nesse dia, o compadre é que ficou me fazendo “sala”. Até perguntei pela comadre e ele me falou sem muito convencimento, de que a comadre não estava muito boa e por isso estava deitada. Mas não me deixou vê-la. Disse que ela estava com muita dor de cabeça e em razão disso encontrava-se cochilando um bocadinho. Aí o Dito me serviu um cafezinho, e eu meio que sem graça, tomei e, mais do que depressa, me despedi desejando melhoras à Lázara e fui embora. Situação chata aquela. Também… não voltei mais lá…!

— Deus me livre comadre me acontecer uma coisa dessas! – falou Luzia. Que situação desagradável… hum!… Agora é que não vou mais lá mesmo!

E assim, entre umas e outras lembrancinhas e considerações sobre a vida do compadre Dito e sua mulher Lázara, as duas comadres chegam ao velório.

 

*****

***

*

 

O velório municipal nesse dia estava repleto de pessoas, tendo em vista as salas destinadas a velar os mortos estarem todas ocupadas por algum féretro, fazendo com que fosse muito grande o número de parentes e amigos enlutados que ali estavam para prestarem as últimas homenagens aos seus entes queridos.

Assim que adentraram naquele velório, Luzia e Rosinha, em sinal de reverência às pessoas enlutadas e à própria memória do falecido, inclinaram suas fontes e dirigiram-se a uma daquelas salas reservadas para o cortejo fúnebre.

Ao se aproximarem do ataúde que se encontrava centralizado no interior da sala, foram logo fazendo o sinal da Cruz e rezaram baixinho uma Ave–Maria e um Padre–Nosso para a alma do finado, e, ainda com as cabeças abaixadas, após é claro, de algumas gotas de lágrimas teatrais, começaram a cochichar entre elas:

— Olha só comadre… – cochichou Luzia. Como estava acabado o compadre Dito.  Se eu o visse pelas ruas, não o reconheceria.

— É mesmo comadre! – respondeu Rosinha. Tão vaidoso que era o compadre…, e agora…, triste vê–lo nesse estado. Que pena… Pelo jeito devia ter perdido até o gosto de viver. Os cabelos dele estavam sempre muito bem aparados e pintados… É bem verdade que as tintas que usava nos cabelos não eram das melhores, mas estavam sempre com uma cor moderna e bonita…, mas agora…, puxa…! Estão tão branquinhos…

— E Luzia indignada comentou:

— Éééé… Rosinha, não queria falar, e você também sabe que não gosto dessas coisas, mas acho que o compadre deve ter sofrido um bocado nesses últimos tempos…, pra não falar a vida toda, e ninguém me tira da cabeça que foi em virtude do gênio da comadre Lázara. Só pode ter morrido de desgosto!

— É mesmo, coitadinho. Mas agora ele vai poder descansar em paz. – respondeu Rosinha.

E assim, entre uns e outros cochichos, Luzia continuou:

— Que estranho?! Compadre Dito nunca gostou de usar bigode.  E engraçado, ele também não tinha estas “entradas” tão salientes na testa.  Ele sempre se orgulhou de sua cabeleira, apesar da idade. Olha só que dó…, estava ficando bem calvo.

Aí Rosinha respondeu:

— O Dito devia estar perdendo os cabelos de tanto ouvir a comadre Lázara falar e reclamar dos outros.

— Você tem razão Rosinha! – esbravejou baixinho Luzia. Eu não queria crer nisso. Mas agora tenho certeza que a comadre Lázara não gostava mesmo dele. Tanto é que não veio nem se despedir do finado. Não a vejo neste velório…?!

— É mesmo comadre! – pasmou Rosinha.  Que coisa!… Que desfeita e falta de respeito para com o compadre Dito. Também não estou vendo nenhum de seus filhos…?! Pobre coitado… Quanto esse homem não deve ter sofrido em sua vida…? Imagina isto…, nem seus filhos vieram se despedir!…

E o cochicho continuava, só que dessa vez até choraram um pouquinho de verdade pelo triste fim do compadre. E Rosinha, com a voz parcialmente embargada pela comoção do momento, disse:

— Aliás, não estou vendo nem mesmo a Lori…, nem o compadre Tião…, nem a tia Sofia… A verdade é que não estou vendo ninguém conhecido?!… Que esquisito?!…

Nesse instante, favorecida com o silêncio peculiar do velório, Luzia ouviu uma fala de voz feminina bem atrás dela, perguntando em tom baixinho:

“— Tia, quem são essas duas aí que não saem mais do lado do caixão do tio Chico?”

“— Não sei não?!…” – respondeu também em tom baixo outra voz feminina: “— Já perguntei pra todo mundo e ninguém as conhece e nem as viram tão mais gordas. Devem ser mais umas das tantas vagabundas que o seu tio Chico tinha pela cidade. Safado!!!…”

Ouvindo isso, Luzia discretamente ergueu a cabeça e olhou para os lados e os cantos daquela sala para ver se realmente não via ninguém conhecido da família. Olhou para os rostos de cada pessoa ali presente – nessa hora já sem as lágrimas nos olhos -, não vendo ninguém com rosto familiar ou qualquer outro conhecido.

Continuou então a correr os olhos em volta daquela sala, quando viu entre os castiçais e as velas que ornamentavam aquele funeral, uma coroa de flores com uma faixa em seu centro com os seguintes dizeres:

“Francisco Theodoro – Saudades de Esposa, Filhos e Netos.”

Visto isso, Luzia deu um leve toque com o cotovelo em Rosinha para mostrar-lhe que haviam entrado em sala errada daquele velório, e ainda por cima chorado por outro defunto. E assim, devagarzinho foram afastando-se de próximo do caixão do “Francisco Theodoro”, procurando sair de “fininho” daquela sala, pedindo licença às pessoas – parentes e amigos daquele finado, e foram em direção à outra sala, onde de fato devia estar sendo velado o corpo do compadre Dito.

No momento em que saiam daquela sala e passavam entre as pessoas, ainda ouviram baixinho novamente uma voz de mulher – provavelmente a viúva de Francisco -, dizer a seguinte insinuação:

“— Sem-vergonhas, vai ver que eram também amantes do finado Benedito!”

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