CADEIRAS DE BALANÇO
Era fim do ano de 1989 quando comecei a transitar pela rua Eudélio Ramos, no Jardim Danfer, em São Paulo, atrás do meu grande interesse que perdura até os dias de hoje, que era o namoro com a minha esposa.
Nos primeiros dias de namoro, quando descia pela citada rua, certamente há três casas do meu destino, do mesmo lado da calçada da casa de minha namorada, podia-se notar um casal de simpáticas pessoas sentadas na área de uma casa, em cadeiras de balanço, …daquelas com armações de ferro e forradas com plásticos azuis, que me olhavam curiosos ao me ver passar.
Claro que logo fiquei sabendo se tratarem dos avós maternos de minha então namorada, e assim, após saber destes laços familiares, e também um pouco mais desinibido por estar numa vila “estranha” às minhas andanças, quando passava em frente à casa daqueles avós, passei a acenar com uma das mãos e, num discreto movimento com a minha cabeça, a cumprimentá-los com o meu “bom dia…, boa tarde…, ou boa noite…”, cumprimentos esses que eram prontamente respondidos com satisfação pelos avós.
E por muitos anos foi assim… A figura daquele casal de avós na área de entrada daquela casa na rua Eudélio Ramos, todos os dias, sentadinhos naquelas cadeiras de balanço, passaram a fazer parte do panorama daquele simples lugar.
As pessoas que ali passavam, transeuntes ou os próprios vizinhos, se acostumaram com aquele “quadro pintado” em frente a casa de nº 198, do qual suas figuras principais eram aqueles avós com os seus alvos cabelos estampados ao fundo da tela em volta de moldura.
E essas pessoas sabiam que ao passar por lá, não poderiam deixar de admirar aquele belo quadro vivo, cujas personagens “desenhadas”, enfeitavam-no do amanhecer até o anoitecer e ainda acenavam sorridentes na espera da troca de cumprimentos.
E eu tive a grande felicidade de ter feito parte daquele cenário, e foram muitas as vezes, por anos, que sentei naquela área, e por horas, após “roubar” um poucadinho daquele balançar, saboreando um delicioso torresminho bem crocante e um cafezinho feito na hora, ao lado de seus filhos, netos e bisnetos, conversamos, contamos e ouvimos histórias daqueles avós…
Mas um outro dia amanheceu, e aquela tela havia sido levada com suas principais personagens. Num simples sopro, Deus havia levado para si aqueles avós, que também, por consideração, tinham passado a serem meus avós.
Que coisa!… Agora a Eudélio Ramos nunca mais será a mesma…
Nem se ouve mais o descolar no asfalto do pneu do carrinho de mão do Chiquinho Teixeira carregando e negociando seus chinelos e outras bugigangas, e nem mesmo o som do alto-falante em cima da kombi do mascate a vender colchas e lençóis. Não se vê mais o mandioqueiro com sua carriola a comerciar suas mandiocas amarelinhas e boas de cozinhar e nem o trinar do apito daquele vendedor de algodão-doce a despertar o correr das crianças. E o pior… não se tem mais os cumprimentos daquele casal de avós, dizendo com os sorrisos estampados em suas faces: “Bom dia!… Tarde!… Noite!…”, e perguntando: “Como vai o Fulano? …a Fulana? …o Ciclano?”. Aliás, não se tem mais vida naquela área. Nem mesmo as cadeiras de balanço ficaram para contar outras histórias…
Quem sabe as cadeiras de balanço também estejam lá no céu, para agora fazerem parte do panorama celestial, no balançar descontraído daqueles avós em seus eternos dias ao lado de Deus… Saudosas idas… Eternos avós: Seu Francisco, o Vô Nêgo! E a Dona Aparecida, a Vó Cida!